Ser magra me afastou de cuidar de mim
O corpo de uma mulher não é nada além de aparência pro mundo
Sim, eu sei que falo tudo isso aqui no meu lugar de privilégio dos padrões de estética do mundo, mas esse texto não será sobre “nossa como sofri porque sou magra”, será sobre como para o mundo nosso corpo não é nada além de estética.
Sempre fui muito magra, isso também já foi motivo de muitos comentários sobre meu corpo, mas a grande maioria deles “bons”. Isso fez com que eu visse meu corpo de uma forma linda e admirasse ele por completo? Não. Não, porque nunca está bom. Mas o que eu mais percebo nesses quase 35 anos de vida é que esses comentários faziam eu negligenciar meu corpo e me afastar dele.
Se eu sou magra não tem problema eu comer mal porque “nossa você come tanto e não engorda, que inveja!”. Se eu sou magra não preciso fazer exercício porque “é tão magra que se fizer qualquer exercício some, e pra que né? Nem precisa” Como se exercícios fossem para “consertar” corpos que estão errados e não para cuidado.
Comentários como esses me fizeram sempre ver e lidar com meu corpo de uma forma muito estética, sem entender que ele era um corpo vivo antes de um instrumento de padrão, idealização e objetificação. E pude perceber isso aos poucos quando com 20 anos tive um problema grave de estomago e com 23 anos pedras nos rim por conta da alimentação horrorosa que eu tinha, achando que isso não me causaria nada.
Com 33 anos percebi que não aguentava uma noite de carnaval sem que meu joelho doesse tanto no dia seguinte a ponto de eu viver a base de remédio. Problema na coluna, dor na perna, dor no joelho, postura errada, processos cirurgico pra pedra no rim, etc etc etc, tudo isso na conta do “corpo perfeito”, que na verdade era só um corpo vivo precisando de cuidados.
Conforme fui passando por tudo isso pude entender que meu corpo era muito mais do que um corpo magro e que precisava de cuidado, que a magreza não me dava imunidade na vida, então comecei a me alimentar melhor, fazer exercício e ter uma relação mais amorosa com ele. Uma relação que é minha e do meu corpo e não minha com o corpo que os comentários das pessoas criaram. E é uma relação perfeita? Óbvio que não, mas é minha!
Nesse processo comecei a busca por uma nutricionista, mas tive MUITA dificuldade de encontrar porque TODAS que eu achava trabalhavam na base do emgarecimento. Elas só falavam disso em posts e sites. E eu entendo, pode ser uma forma de cuidado, é o que a maioria das pessoas busca, mas em lugar nenhum alí eu conseguia entender aquela divulgação como cuidado, o objetivo era claro: o corpo padrão e fim.
Depois de tanta busca finalmente encontrei uma que falava de boa alimentação para um corpo saudável e de uma forma real. Conversando com ela sobre porque eu buscava o serviços, ela comentou que é muito difícil alguém procurar uma nutricionista para poder ganhar massa e peso de uma forma saudável, que era um dos trabalhos mais difíceis para a área dela, porque normalmente quem é naturalmente magra não tem essa preocupação. Alí percebi que realmente essa visão de corpo que eu tinha antes não era individual, esses comentários afastam pessoas magras de se cuidar.
Nosso corpo tem nossa história mas é carregado também com a história dos outros e o que eles projetam em nós, sendo corpos gordos ou magros, cada um com a sua violência. Sendo mulher você será atravessada por isso e é nosso trabalho e nossa responsabilidade com a gente conseguir reorganizar essa relação e se revoltar! Que não é fácil, é uma luta contra um mundo. E contra um mundo que entende nosso corpo como objeto e não algo vivo, que tem direito a história, dores e alegrias.